Em meados de agosto, alunos do ensino médio do Colégio de Aplicação (CAp) participaram da EXPO-UFPE, aqui em nosso Centro de Convenções. Assistiram a abertura do evento, que é promovido pela universidade para divulgação dos cursos oferecidos pela instituição.
De início, além de agraciados com a pontualidade (que já conhecemos bem) do reitor Amaro Lins, houve a distribuição de um material associado à Secretária de Cultura de Pernambuco. É que teríamos ali as palavras de Ariano Suassuna, atual secretário de estado, escritor e popstar. Acompanhando-o, o professor Carlos Newton Jr e Oliveira de Panelas (cidade do meu pai, por sinal), repentista.
Não vou falar da palestra em si, mas de algumas reflexões que ela me trouxe. Destaque ao material que foi distribuído à platéia: algumas folhas com os créditos da aula-espetáculo, outras com muito espaço e poucas informações sobre ações do governo. Investimento cultural por aqui deve mesmo ser algo bastante intenso: afinal, temos dinheiro até pra gastos supérfluos com papel. Ou talvez eu não tenha entendido uma ação de inclusão social – os míopes, colegas, não poderiam ler os créditos se tivessem sido colocados lá, longe, no datashow que foi usado no teatro; ou os surdos, quem sabe, não teriam ouvido a propaganda governamental feita no microfone por uma assessora de Ariano, momentos antes de ele vir ao palco.
É uma pena que esses instantes conturbados de terceiranista não me tenham permitido fazer algumas pesquisas pra incrementar este texto. Vou adaptar as informações que faltam a perguntas.
Quem financia um evento promovido por uma universidade pública? Quem financia as ações da secretaria de cultura do estado? Em que contexto o secretário de cultura proferiu a palestra?
Talvez soem perguntas ao extremo exageradas. Não são. Precisamos, cidadãos, lembrar a todo instante o que significa um governo, uma organização pública. O que significa um gasto público? O que significa haver secretaria de cultura num governo? Cabe ao governo gerir a cultura?
Sigamos. Durante a palestra, um momento intrigante. Ariano explode suas convicções político-partidárias e louva Lula como o único brasileiro capaz de conduzir o país pelo caminho necessário, como o maior símbolo da sociedade brasileira. Isso num evento totalmente público, provavelmente com dinheiro estadual e federal, diante de um púbico adolescente que em sua maioria, mesmo sem saber muito bem de quem se trata, venera Suassuna. Normal?
Não, não é. Independentemente de concordar ou não com a posição do pai de João Grilo (e eu discordo veementemente, que fique claro), o fato é que não se pode usar do aparelho do Estado para se falar de um governante. Não se trata de censura. Ele poderia falar o que quisesse milhões de vezes num jornal, num livro ou no meio da rua. Em evento do estado não. Porque não pagamos para que se promova A ou B. Não é esta a função do Estado, não é esta a função da Universidade.
E também não é função das platéias aplaudir a tudo e todos, como se viu aquele dia. Ainda bem (por um lado; e muito infelizmente por outro) que, pelo que pude perceber, os alunos do CAp destoaram dos outros: enquanto, ao fim do ato, todos, efusivos, festejaram de pé, os CApianos permaneceram sentados em suas poltronas. Parece que nosso povo não sabe o que podem significar os gestos que fazem.
Fiscalizar tudo isso é nossa função. A sociedade precisa ser mais articulada e atuante. “O governo não resolve os problemas, o governo é o próprio problema”. É preciso estar atento. E sempre pensar na primeira pessoa do plural.
Texto originalmente escrito para publicação no CAp&Tal, jornal produzido pelo Grêmio do colégio e que circula pela comunidade CAp.
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