26 fevereiro 2007

Angústia (ou Éramos, seríamos)

Estávamos no quarto. O clima era tenso. Momentos imprevisíveis a suceder. As paredes, mesmo claras, fechavam-se turvas - como que fazendo parte da comunicação. O vento entrava pela janela. Ainda assim, as cortinas permaneciam paralisadas, traduzindo a face incrédula de minha esposa.

Vivíamos um momento inédito em nossa relação. Os desentendimentos pulverizaram a rotina. A doçura de outrora amargara. Não me peça, leitor, desentendidos motivos, seria demais – são todos e nenhum. O amor existe, mas não basta.

Talvez concorde comigo nossa cama, que encostada cabeceira na parede tanto testemunhou. Foi por cima do lençol de horas todas onde o olhar completou palavras que esmaeceram o futuro e fizeram de nós passado, no imperfeito conjugado. Éramos, seríamos.

Difícil decisão, sem firmeza interna, externamente evidenciada. Os pijamas encorpados impunham intimidade esgotada. Ela subiu e tomou meu corpo. Implorou, provocou, arranhou. Desabou, beijando os pés – meu e da cama. Não adiantou.

Eu pensava além das cobertas. Poderia estar agindo como um filho ingrato, que leite sugou dos seios maternos, mas se desconfia adotado - e então condena, impugna sem amparo ou piedade. E se estivesse enganado? Não suportava a dúvida. A via fraca.

Parecia perecer desesperada. Quiçá enraivecida, desdenhou até dos mais unânimes momentos tidos. A antiga intensa devoção figurou ódio, contradito na seguida. Pondo fim ao estrago derradeiro, a vã tentativa, torta, no tapete atrás da porta, de impedir minha saída.

Versão: 04/03/2007

8 comentários:

Anônimo disse...

Primo... tenho que ler mais uma vez até de dar minha opinião...
Vou procurar xeretar mais teu blog...
Pelo que eu tô vendo tá bem legal!
Te adoro, sabia??
Bjoksss!


By: Karla_Lady Matos*

Anônimo disse...

Quando você terminar esse conto eu faço meu comentário. ok?
beijos.

Anônimo disse...

Achheique voc~e não era a favor de divórcios...

Anônimo disse...

Isa aí em cima

Mano Ferreira disse...

Isa, escrever sobre um não me faz ser a favor do divórcio. Não sou irredutivelmente contra, sou àpriori.

Anônimo disse...

Depois de terminar esse conto você pode lançar o ensaio "Entendendo o conto Angústia, de Manoel Paulo Ferreira, por Manoel Paulo Ferreira."
Vai vender feito água no deserto!

Bruno Monlevade disse...

muito bom!

Bruno Monlevade disse...

e isso tbm vale pra ideia d marco