Bem, atualmente estou sem tempo [ou disposição] para escrever. Motivo? Férias. No entanto, pretendo me aprofundar um pouco em alguns aspectos do texto anterior. Para não perder o fio da meada, improviso aqui. Outra coisa: estarei viajando até o dia 23 de maio.
Infelizmente, a cultura brasileira passa por algumas crises. Para perceber, basta passar no centro do Recife e perceber a trilha sonora que rola solta. É algo que passa muito longe de nossas raízes, mas alguns teimam em chamar de popular. [Em música, popular não é o que agrada o povo, é o que é produzido pelo povo - em geral, a qualidade é superior quando encaixa-se a segunda característica.] Ainda mais triste é saber que, mesmo em escassez, há coisas boas por aí que, injustamente, não são divulgadas pelos grandes meios de comunicação.
No cinema nacional, contudo, podemos facilmente afirmar que estamos passando por um momento de evolução e re-estruturação, desde O Quatrilho, Central do Brasil e demais filmes que tiveram certa repercursão. Acontece que já passamos por infernos na questão audiovisual - a soberania da pornô-chanchada é um exemplo. Para que saíssemos desta lama, o governo precisou intervir e criar leis de incentivo, que nos renderam boas produções. Todavia, parece que não sabemos onde fica o meio termo. Presentemente, passamos por uma avacalhação. É fácil demais, ao menos pra companheirada governista, conseguir financiamento para certas empreitadas.
Aí que entra O Doce Veneno de Escorpião. Não quero nem perguntar como é possível incentivar tal produção "cultural". O objetivo deste post não é indagar a ética do favorecimento ideológico disfarçado de apoio à arte. Lanço outra questão, no mínimo tão importante quanto essas: Como é possível dar dinheiro a um filme que não tem sequer roteiro? Financiar obra antes do projeto estar elaborado é estranho.
Para que você sinta o perigo, vou me alongar um pouco mais. Estando o filme ainda em fase de elaboração de roteiro, há ainda riscos fortes de que o projeto não seja desenvolvido. Neste caso, o que acontece com o dinheiro? Some do mapa. Qual o cheiro que sinto? Facilidade extrema de um esquema de corrupção sem vergonha. Em outras palavras: alguém com bons contatos pode ter uma "idéia mirabolante", estar sem tempo de desenvolvê-la e pedir um dinheirinho pra ajudar na vida enquanto faz isso. Mas o "isso" não existe. E não há satisfação a ser dada. Pronto: sem trabalhar, dinheiro no bolso - e a nação sendo roubada.
É clara a necessidade de estabelecer critérios para financiamentos culturais. Outra: o correto, ao meu ver, seria que após a obra financiada estivesse pronta, o estado fosse reembolsado. Não podemos sair jogando dinheiro pela janela, ainda mais com tantos problemas a ser resolvidos. Pelo bem da cultura e do país, defendo, em lugar desses financiamentos, empréstimos - criteriosos ao máximo.
Um comentário:
Gostei das observações, sobretudo no que se refere ao empréstimo. O filme, depois de pronto, rende o suficiente para que a sociedade civil seja reembolsada. É isso.
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