Dedicado à todos que fazem, fizeram e farão o Colégio de Aplicação - UFPE
Esvai-se do corpo em chamas a essência de algo que foi, outrora, mais que cinzas. A fuligem, prova do irreversível, paira no ar. E nos privamos da harmonia entre o corpo, a mente e a alma. Sem forma, com um fim. Chamas! Somos a essência de algo maior que está morrendo. O Colégio de Aplicação. No entanto, das cinzas, podemos renascer - como a fênix, viva e bela.
Vivemos, hoje, em um lugar em que as identidades parecem estar perdidas, em que cada vez mais nos fechamos em mundos particulares, em constante busca. Mas em busca de quê? De objetivos que no fundo não são nossos? De metas que tão logo alcançadas nos mostram que eram o que não queríamos? Temos deixado nossa identidade escorrer entre os dedos. Esta instituição que fora conhecida como um local de experimentação e aplicação de práticas inovadoras de ensino, hoje se resume a uma instituição em que os alunos não mais produzem, apenas reproduzem. Como dizem os próprios professores, a experimentação implica necessariamente atividade, realização, criatividade, busca do novo, investigação, comunicação. Infelizmente, estamos sendo contaminados por uma praga batizada vestibular, que diminui todo o processo de educação e resume anos de vida, paixão, construção e estudo em única prova, posteriormente traduzida em mero número. Número que, sem razão, tem atormentado e ridicularizado nossos estimados estudantes, enchendo de orgulho parte dos docentes e maioria dos pais, que estufam o peito enquanto, sem perceber, estragam o “radioso horizonte que se abriu” em 1958. O vestibular é a nossa verdadeira meta, ou somente a absorção de um vírus social?
Nós, alunos, temos, cada vez mais, perdido a confiança no CAp - o que é preocupante. A maioria dentre os que possuem as devidas condições financeiras corre aos cursos preparatórios pré-vestibulares. Os alunos nunca precisaram se preocupar com isso. Há formação diferenciada, que visa à vida. Além das exigências nacionais da educação científica tradicional, recebemos aulas de artes plásticas, música, filosofia, orientação educacional, dança. Devemos saber utilizar variadas formas de expressão, ter senso crítico apurado, fazer interferências ao meio, criar hipóteses, compreender o mundo. No entanto, até os nossos mestres incentivam e abertamente aconselham a procura dos ditos cursos de formação de robôs, papagaios que simplesmente espelham o que lhes é incutido, meros armazenadores de informações. Algo de muito errado acontece. Até os professores não confiam no colégio. Perdemos a confiança em nós mesmo, já que somos nós e eles que fazemos o colégio. Essa descrença e a imobilidade instaladas destroem a escola, lugar onde as relações podem se efetivar. Os valores mudam, e com isso a sociedade muda; entretanto, a necessidade das relações humanas se mantém. Atualmente, nos preocupamos mais com as metas que com as coisas certas. Certas por serem as importantes. Conhecimento simplesmente por si só, para que existir? O Conhecimento é a troca de informações, é a relação homem-homem, mulher-mulher, homem-mulher, mulher-homem. Entender que a vida é feita de mortes, que a cada fim há um surgimento, e que vivemos finalizando e começando em um ciclo que enriquece cada vez mais o ser é uma forma de compreender o mundo - e compreender se faz através da experiência. O que é o Mundo se não as relações?
Eventos fundamentais na estratégia pedagógica e para o engrandecimento do ser em formação, como a Feira de Conhecimento, o Festival de Artes e a Socialização das PD’s, estão cada vez mais esvaziados, desprestigiados e não recebem o incentivo que deveriam. Falha grave. “Mas quem tem saco pra ficar mais do que o tempo necessário na escola? Têm-se mais o que fazer, não é verdade?” Fico pensando quantas pessoas têm o seu melhor amigo nesse ambiente. E lembro-me de uma denominação dada há muito tempo à escola: nossa segunda casa. Mas, da forma que cuidamos e valorizamos esse espaço, acho que não podemos mais dizer isso. É visível e espiritualmente sentido nos corredores e quiosques que a arte, predominante em tempos outros, está ausente. O ar de reflexão sempre respirado se esvai. O sentimento familiar, de prazer com a presença no CAp, foi deixado para trás. Alunos não mais esticam a jornada como antes. Professores e funcionários chegam pensando em sair. Todos sentem estafa ao discutir o colégio em suas reuniões gerais e de área. Decisões caminham vagarosamente, rastejando-se. Mas nesse momento precisamos levantar, sacudir a poeira e correr contra a devoração dos ideais que refletem uma paixão, construtora da nova geração.
Envolvimento é o que nos falta. Querer mudar. A sociedade pós-moderna, a nossa sociedade, vive um processo de crescente individualização do ser, em detrimento do espírito de coletividade. Estáticos, assistimos à uniformização de atitudes e intensificação do egoísmo e hipocrisia. As pessoas não assumem suas funções e responsabilidades, tudo é culpa do outro. Outro. O Outro ainda nos importa? Não. Auto-suficientes, dentro de nossas neuroses, vivemos para nós mesmos. Se for para algo acontecer esperamos que os outros façam. A lei do menor esforço impera. Perceber que a Coisa está ruim e criticar que ninguém faz nada pra melhorar, esperando que os outros a melhorem é o mais puro cinismo. Se estiver errado, tente consertar. O Mundo são as relações, não nos fecharmos e preservarmos o que é nosso é fundamental, pois ninguém fará isso por nós.
O Colégio de Aplicação vem destruindo sua identidade. A mente não funciona corretamente. Estamos perdendo nossa alma. O vazio toma conta de nosso corpo, o espetáculo da desvalorização da essência, uma força maior que o vigor da respiração do nosso espírito. O vácuo começa a retrair nossa carcaça, que se choca e esmaga. Esse atrito acende faíscas, o fogo toma conta do CAp. Nossa mente precisa reagir, antes que a destruição seja inevitável. Acreditar que podemos mudar é um passo, pois somos nós que fazemos as coisas serem o que são. Estamos perdidos e muitos não enxergam (ou não admitem), reproduzem-se os erros e cada vez mais nos perdemos. As nossas buscas deveriam se tornar uma. A busca pela preservação do que é bom, pela preservação da nossa essência. Pela nossa integridade como ser. Somos as chamas, pedimos socorro.
Esvai-se do corpo em chamas a essência de algo que foi, outrora, mais que cinzas. A fuligem, prova do irreversível, paira no ar. E nos privamos da harmonia entre o corpo, a mente e a alma. Sem forma, com um fim. Chamas! Somos a essência de algo maior que está morrendo. O Colégio de Aplicação. No entanto, das cinzas, podemos renascer - como a fênix, viva e bela.
Vivemos, hoje, em um lugar em que as identidades parecem estar perdidas, em que cada vez mais nos fechamos em mundos particulares, em constante busca. Mas em busca de quê? De objetivos que no fundo não são nossos? De metas que tão logo alcançadas nos mostram que eram o que não queríamos? Temos deixado nossa identidade escorrer entre os dedos. Esta instituição que fora conhecida como um local de experimentação e aplicação de práticas inovadoras de ensino, hoje se resume a uma instituição em que os alunos não mais produzem, apenas reproduzem. Como dizem os próprios professores, a experimentação implica necessariamente atividade, realização, criatividade, busca do novo, investigação, comunicação. Infelizmente, estamos sendo contaminados por uma praga batizada vestibular, que diminui todo o processo de educação e resume anos de vida, paixão, construção e estudo em única prova, posteriormente traduzida em mero número. Número que, sem razão, tem atormentado e ridicularizado nossos estimados estudantes, enchendo de orgulho parte dos docentes e maioria dos pais, que estufam o peito enquanto, sem perceber, estragam o “radioso horizonte que se abriu” em 1958. O vestibular é a nossa verdadeira meta, ou somente a absorção de um vírus social?
Nós, alunos, temos, cada vez mais, perdido a confiança no CAp - o que é preocupante. A maioria dentre os que possuem as devidas condições financeiras corre aos cursos preparatórios pré-vestibulares. Os alunos nunca precisaram se preocupar com isso. Há formação diferenciada, que visa à vida. Além das exigências nacionais da educação científica tradicional, recebemos aulas de artes plásticas, música, filosofia, orientação educacional, dança. Devemos saber utilizar variadas formas de expressão, ter senso crítico apurado, fazer interferências ao meio, criar hipóteses, compreender o mundo. No entanto, até os nossos mestres incentivam e abertamente aconselham a procura dos ditos cursos de formação de robôs, papagaios que simplesmente espelham o que lhes é incutido, meros armazenadores de informações. Algo de muito errado acontece. Até os professores não confiam no colégio. Perdemos a confiança em nós mesmo, já que somos nós e eles que fazemos o colégio. Essa descrença e a imobilidade instaladas destroem a escola, lugar onde as relações podem se efetivar. Os valores mudam, e com isso a sociedade muda; entretanto, a necessidade das relações humanas se mantém. Atualmente, nos preocupamos mais com as metas que com as coisas certas. Certas por serem as importantes. Conhecimento simplesmente por si só, para que existir? O Conhecimento é a troca de informações, é a relação homem-homem, mulher-mulher, homem-mulher, mulher-homem. Entender que a vida é feita de mortes, que a cada fim há um surgimento, e que vivemos finalizando e começando em um ciclo que enriquece cada vez mais o ser é uma forma de compreender o mundo - e compreender se faz através da experiência. O que é o Mundo se não as relações?
Eventos fundamentais na estratégia pedagógica e para o engrandecimento do ser em formação, como a Feira de Conhecimento, o Festival de Artes e a Socialização das PD’s, estão cada vez mais esvaziados, desprestigiados e não recebem o incentivo que deveriam. Falha grave. “Mas quem tem saco pra ficar mais do que o tempo necessário na escola? Têm-se mais o que fazer, não é verdade?” Fico pensando quantas pessoas têm o seu melhor amigo nesse ambiente. E lembro-me de uma denominação dada há muito tempo à escola: nossa segunda casa. Mas, da forma que cuidamos e valorizamos esse espaço, acho que não podemos mais dizer isso. É visível e espiritualmente sentido nos corredores e quiosques que a arte, predominante em tempos outros, está ausente. O ar de reflexão sempre respirado se esvai. O sentimento familiar, de prazer com a presença no CAp, foi deixado para trás. Alunos não mais esticam a jornada como antes. Professores e funcionários chegam pensando em sair. Todos sentem estafa ao discutir o colégio em suas reuniões gerais e de área. Decisões caminham vagarosamente, rastejando-se. Mas nesse momento precisamos levantar, sacudir a poeira e correr contra a devoração dos ideais que refletem uma paixão, construtora da nova geração.
Envolvimento é o que nos falta. Querer mudar. A sociedade pós-moderna, a nossa sociedade, vive um processo de crescente individualização do ser, em detrimento do espírito de coletividade. Estáticos, assistimos à uniformização de atitudes e intensificação do egoísmo e hipocrisia. As pessoas não assumem suas funções e responsabilidades, tudo é culpa do outro. Outro. O Outro ainda nos importa? Não. Auto-suficientes, dentro de nossas neuroses, vivemos para nós mesmos. Se for para algo acontecer esperamos que os outros façam. A lei do menor esforço impera. Perceber que a Coisa está ruim e criticar que ninguém faz nada pra melhorar, esperando que os outros a melhorem é o mais puro cinismo. Se estiver errado, tente consertar. O Mundo são as relações, não nos fecharmos e preservarmos o que é nosso é fundamental, pois ninguém fará isso por nós.
O Colégio de Aplicação vem destruindo sua identidade. A mente não funciona corretamente. Estamos perdendo nossa alma. O vazio toma conta de nosso corpo, o espetáculo da desvalorização da essência, uma força maior que o vigor da respiração do nosso espírito. O vácuo começa a retrair nossa carcaça, que se choca e esmaga. Esse atrito acende faíscas, o fogo toma conta do CAp. Nossa mente precisa reagir, antes que a destruição seja inevitável. Acreditar que podemos mudar é um passo, pois somos nós que fazemos as coisas serem o que são. Estamos perdidos e muitos não enxergam (ou não admitem), reproduzem-se os erros e cada vez mais nos perdemos. As nossas buscas deveriam se tornar uma. A busca pela preservação do que é bom, pela preservação da nossa essência. Pela nossa integridade como ser. Somos as chamas, pedimos socorro.

Escrito por Manoel Paulo Ferreira e Joali Ingrácia
Um comentário:
abandonado isso aqui? não...
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