09 maio 2010

Imagens que contam histórias

"Minha busca é sempre por um herói". A fala do cineasta italiano Roberto Orazi, 45 anos, é emblemática. Seu desejo de contar histórias inspiradoras alia-se à arte das imagens - uma paixão que transborda no entusiasmo de suas palavras, prendendo a atenção de quem o ouve.

Trabalhando nas filmagens de seu quarto documentário, onde contará a história de Cacau, o traficante de livros da comunidade do Bode que ganhou notoriedade na imprensa pernambucana, Orazi foi convidado especial no Curso de Estratégias de Investigação em Jornalismo. Antes de ser diretor de cinema, Roberto trabalhou 15 anos como assistende de direção. Em sala da biblioteca central da UFPE, trajando calça jeans, camisa social e tênis all-star, o italiano, de passagem marcada para seu país no dia seguinte, conversou com estudantes de comunicação na última segunda-feira, três de maio.

Seu depoimento foi precedido da exibição de H.O.T. (sigla em inglês para tráfico de órgãos humanos), sua obra mais recentemente concluída. Foi justamente na fase de produção deste vídeo, premiado no Festival de Cinema de Roma, que Roberto conheceu o Recife. Na ocasião, ele investigou o braço brasileiro de um esquema internacional de tráfico de órgãos e, durante sua busca por informações, conheceu o jornalista Eduardo Machado, com quem mantém contato. Machado é um dos responsáveis pelo curso aos jornalistas e, por extensão, pela presença do italiano naquela sala.

A conversa fluiu naturalmente e, com bastante desenvoltura no português, Orazi contou detalhes de seu trabalho, especialmente de seu processo de apuração. Bastante metódico, Roberto contou que, antes de ir a campo, realiza pesquisa minuciosa na imprensa e na internet, além de ler livros especializados e entrevistar estudiosos do tema. É na rua, porém, que realmente acontece sua obra. Um único depoimento é capaz de modificar todo o rumo até então traçado. Ouvir as pessoas, compreender suas vidas e suas motivações - este é o grande foco.

São histórias que, muitas vezes, surpreendem. O contraste no perfil de brasileiros e nepaleses que vendem seus órgãos é um exemplo. No Nepal, as vítimas do tráfico são socialmente vulneráveis, praticamente escravas. Em meio ao desespero, as pessoas aceitam trocar seus órgãos por dinheiro, cerca de R$ 800. Como resultado, danos à saúde e mortes prematuras. Enquanto isso, no Brasil, os vendedores de órgãos, conscientes de seus atos, encaram a situação como uma oportunidade de mudança de vida. Muitos investem o dinheiro e, no fim das contas, desenvolvem uma relação de gratidão com os intermediadores do negócio.

Apesar do rigor desprendido neste tipo de pesquisa, o que aproxima seu labor da prática jornalística, o cineasta não se considera um repórter. "Meu fascínio, mais do que pela informação, é pela imagem", explica o artista. E assim, de imagem em imagem, Roberto nos revela histórias. Histórias que comovem, histórias que inspiram. Histórias da heróica arte da vida.

Um comentário:

Mari disse...

Muito bom ler seus textos=) A certeza de um futuro jornalista de fato =)
Parabéns.!