Infelizmente, discutir não se trata de um costume por esses bandas da província. Aqui, como bem observou nossa sociologia, a cultura escravocrata e patrimonialista dos feudais senhores de engenho e dos coronéis sertanejos nos deixou de herança um ranço de aceitação de idéias impostas horizontalmente: um filho, se discorda do pai, é censurado por suposto desrespeito.
Esse tipo de comportamento é multiplicado e vai alastrando os danos ao bom pensamento. Como resultado, temos indivíduos não iniciados na nobre arte do debate.
Essa não iniciação é problemática. O raciocínio humano nos é um dom natural, mas como qualquer capacidade, exige treinamento. Ninguém nasce sabendo enxergar, ler ou pensar corretamente.
Pensar corretamente... "Ih... seria essa uma frase fascista?", pensa logo o apressado. Não me refiro à correção de certas conclusões, não pretendo ser o dono da verdade. Me refiro, aí sim, ao método do pensamento. Sim: pensar exige um método, um caminho.
Todo pensamento, no fundo, possui uma espécie de estrutura matemática. A matemática é o exercício de pensar sobre o pensar. 1 + 1 = 2 não porque alguém disse, mas porque é. Porque se, conceitualmente, o 1 é 1 e o 2 é 2, 1 + 1 só pode ser 2. Não é assim porque alguém quer. É assim por auto-evidência.
É uma auto-evidência porque, como sistematizou Aristóteles, há duas premissas, com 3 termos: o termo maior (presente em uma das premissas), o termo menor (presente na outra premissa) e o termo médio (em comum nas duas premissas). É a existência deste termo médio que causa uma inferência entre as premissas, produzindo uma conclusão necessária. Não é assim porque eu quero que seja. É assim porque é, auto-evidentemente. Como 1 + 1 = 2.
Ter domínio sobre esse instrumento (a lógica) é o pré-requisito para o bom raciocínio, sem o qual não existe debate. A função maior da educação, e essencialmente nobre, é dotar o indivíduo desta capacidade, instrumentalizá-lo para o pensamento. Se indivíduos escolarizados não possuem esse instrumento, é porque não foram educados. Foram somente ensinados e esse ensino é uma piada.
A lógica é a sistematização do pensamento, a metodologia da razão. Ao estudá-la, nos torna mais fácil reconhecer certos artifícios intelectualmente desonestos - que, infelizmente, ainda não fartamento utilizados por aí. E, enfim, chegamos ao que me trouxe a este texto. Como é chato ter que conviver com "argumentos" de 4 termos, onde a semelhança entre palavras e expressões é confundida com igualdade de substância! Como é insuportável se deparar com debatedores que, no lugar de rebater o que você diz, tentam refutar o que você não disse!
É assim que fica o dito e redito por não-dito. E o não-dito como dito e desdito numa glória imaginária.
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