13 janeiro 2008

Começa a temporada de paixão

Ontem começou a temporada 2008 para o Sport Club do Recife. Junto com a goleada por 4x0 sobre o Salgueiro, um sentimento de que o clube está avançando, especialmente no aspecto administrativo.

No fim do ano passado, foi anunciada a compra de terreno para construção de Centro de Treinamento que promete revelar os futuros valores do time principal, além de gerar receita com transação de atletas. A Ilha do Retiro passou (continua passando, na verdade) por diversas reformas, inclusive do ponto de vista estrutural, tanto no seu estádio como no patrimônio como um todo. Novas parcerias firmadas culminam na construção da nova loja do Sport, que promete inovar as vendas de produtos esportivos no Nordeste.

Uma nova era parece começar pelas bandas da Praça da Bandeira – e tudo permeado pela diretoria de Marketing, numa proposta moderna de gestão. A última inovação posta em prática foi a Rádio Ilha, sistema de som que prestará informação e entretenimento aos torcedores antes, durante e após as partidas.

Mas esse texto deve falar de paixão. Paixão que ontem matou saudades. Aquele sentimento de entrar no clube, sentir uma atmosfera que difere do mundo exterior, ter acesso ao estádio, subir os degraus da arquibancada, sentar confortavelmente no setor de sócios. Ver o time surgir dos vestiários com o manto rubro-negro (mesmo que vestindo o mais feio modelo de camisa da história do Leão do Norte; também, pudera, são os últimos jogos dessa malfeitoria estética).

Os pequenos recifenses recém feitos filhos do Papai da Cidade que acompanham a disseminação do time pelas quatro linhas fazem a festa no gramado (momento que, pessoalmente, já vivi – quando era criança fui um dos mascotes e num tempo de vacas gordas, com direito a Bosco; Russo, Sandro Blum, Erlon e Dutra; Leomar, Sidney, Adriano e Nildo; Leonardo e Taílson). A orquestra Treme-Terra, que toca frevo em todos os jogos do glorioso no Recife, anima os sócios e, em especial, Dona Maria José, a senhora que há mais de 50 anos só veste vermelho e preto (com exceção dos dias em que, de branco, a devota católica vai à Igreja).

Com a fuzarca já instalada, a bola estapeia a grama. O cazá-cazá entoa dos fígados, regados a cerveja em sua maioria. O clima de comoção e devoção aos montes transforma cada torcedor em cúmplice do outro. As pessoas praticamente não se conhecem, mas lá dentro são íntimas. Se abraçam emocionadas após um gol. Urram juntas a cada jogada bem feita, mas incompleta. Entram em transe a cada vitória.

O esporte, quando praticado, tem o poder de extravasar emoções primitivas e instinto agressivo, bem como a ânsia humana por competir, sentir-se melhor que os outros ou, simplesmente, sentir o esforço suado nos pêlos da pele. Quando assistido, consegue abstrair os expectadores e fazê-los, ao menos enquanto durar a partida, esquecer o mundo real. O esporte, nesse sentido, é muito próximo da arte. Mas a paixão clubística vai mais além: o estado de catarse é mais longo e, de tão forte, algumas vezes automático.

Depois do jogo, da intensa interação com desconhecidos em comum, os ânimos se renovam. É hora de voltar pra casa. E esperar o próximo jogo. No caso, Sete de setembro X Sport, em Garanhuns, 16 de janeiro, as 20h45.

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