12 abril 2008

Babaridade 3

Pergunta 5 - O filme satiriza a cultura comercial e os programas popularescos. O que vocês pensam sobre o clichê e a mediocridade instalada na televisão/cultura brasileira?
Txai Ferraz -
É complicado falar sobre isso, é uma questão que ao mesmo tempo em que danifica, é praticamente a base da televisão brasileira. Tem dias que eu sinto vontade de ver um besteirol americano, não acho que a razão deva se sobrepor o tempo inteiro - o problema, como sempre, é quando se fica cego por escolher não olhar por outras perspectivas. Mas rio muito com tudo isso, nem cinquenta continuações de Bárbara dariam conta de satirizar tudo o que merece ser ridicularizado hoje.
Vinícius Gouveia -Quanto a esses clichês instalados na cultura brasileira, mais especificamente na televisão aberta, vejo, em parte, como a falta de capacidade de muitos profissionais, mas, também, [e principalmente!] pela falta de liberdade artística que muitos tem. Televisão e cinema são meios muito caros para ganharem apoio para projetos diferentes dos quais o público de massa está habituado. É compreensível, porém nocivo à produção brasileira, que grandes produtores não estejam interessados em investir nisso. quando novas linguagens chegam a esses meios é porque já foram testadas na TV à cabo, em filmes de baixo orçamento, alternativos, ou de outras maneiras que não necessitaram de tanto dinheiro. Tudo isso acaba tornando a cultura de massa brasileira essa infinidade de clichês, que está mais interessada em vender do que proporcionar ao público algo de conteúdo. É fácil entender porque pensam “vamos colocar uma mulher bonita e piadas sem graça para que, na hora do intervalo, ganhemos bastante dinheiro" do que “vamos fazer coisas criativas, sem nos importar se o público vai gostar ou não”. Sem esquecer que público é a MAIORIA. A tv aberta é voltada a maioria do horário e não se importa se algumas pessoas gostam disso ou daquilo. O negócio é audiência. Idem é o cinema. O cinema comercial quer vender ingressos, quer rostos bonitos, quer emocionar de maneira óbvia o público. Então, não é de se espantar que nos locais onde se faz tv e cinema de maneira mais livre seja o ‘nascedouro’ de grandes nomes do meio por puro merecimento.
Txai Ferraz - Sinto o que Vinícius falou também, mas é uma relação muito conflituosa. Uma das razões pro cinema nacional não se firmar, (in)felizmente, é a falta de uma grande produção de filmes de massa que sustente uma produção artística e primamente cinema, como acontece em alguns outros países - mas pensar assim é ser muito elitista.
Vinícius Gouveia -
No final, os atores capacitados correm para as novelas e, com os salários humilhantes, investem em seus projetos. Dessa maneira, investir em teatro é mais barato. Com cinema complica, afinal o processo é bastante caro e vc ainda depende das bilheterias pra ganahr algum lucro.
Txai Ferraz - Justo, é por isso que muitos atores de telenovelas não abrem mão de fazer teatro.
Vinícius Gouveia -
Os atores que estudam! Porque se entrarmos no mérito dos 'rostinhos bonitos', isso já não existe mais, vide sérgio marone, malhação, karina bachi... CAMINHOS DO CORAÇÃO!
Manoel Paulo Ferreira - De modo geral, poderia concluir que a culpa do baixo nível da produção é o baixo nível do público?
Vinícius Gouveia -
Mas quem forma o público?
Manoel Paulo Ferreira -
No entanto, temos algumas ilhas de qualidade que poderiam, neste raciocínio de formação do público, educar a visão dos espectadores, como é o caso da TV Universitária/Cultura e até de algumas mini-séries da globo... E, em geral, esses programas não conseguem sucesso de audiência...
Vinícius Gouveia -
Porque são ilhas, mas elas não deixam de atingir algumas pessoas. Foi esse o problema que eu falei acima: se não dá audiência, é rapidamente tirado do ar. Fora que a tv brasileira já está engessada no modelo 'globo'. É uma questão de cultura.

Pergunta 6 - Bárbara, a bárbara movimentou o colégio como há tempos não se via. O filme foi o tema central do intervalo das aulas, quase 200 alunos lotaram a sala de exibição e os terceiranistas foram liberados para assistir o longa. Falem sobre essa estréia e a resposta do público.
Txai Ferraz - Estava muito ansioso e ao mesmo tempo aflito, afinal o trailer criou uma expectativa grande demais. Até agora não consigo acreditar no que vi, quase duzentas pessoas querendo ver Bárbara. Numa sessão anterior só para convidados, já deu pra sentir como algumas coisas funcionaram de uma forma que a gente não esperava, mas nada comparado com a estréia. Alguns comentários me fizeram ver coisas que eu não via antes. Acho que o público recebeu bem, ao menos só recebi até agora críticas pela falta de lógica da narrativa, mas acho que o filme é non-sense ao ponto de se definir sem prévias definições, e isso convive bem com a linearidade da história e a superficialidade dos personagens.
Vinícius Gouveia - Eu fui um dos principais responsáveis por grande parte do departamento de marketing. Chamo bárbara de ‘filme megalomaníaco’, afinal, como pode um filme feito, tecnicamente, de maneira tão precária movimentar um colégio? É muita vontade de ser mais e melhor do que realmente é e querer mudar a estrutura do Aplicação! Então, acho que o boca a boca, inicialmente, foi uma arma poderosa. Não só entre os alunos, mas entre os professores. Daí, fizemos o trailer [roteiro de txai e edição minha]. Eu não tinha certeza se ele estava realmente bom, mas quando passamos no festival de artes foi sucesso absoluto! Ele fez bárbara ser conhecido por todo mundo, inclusive dentre as pessoas que a gente tinha menos contato, como as quintas séries [sextos anos]... Dois dias antes da estréia, criei aqueles cartazes e espalhei pelo colégio a fim de fazer com que a curiosidade de todos fosse cutucada e eles decidissem ir assistir o filme para querer saber que diabos era aquilo que se dizia tão bom. Além disso, tivemos o incondicional apoio e ajuda da professora Jane Pinheiro, que deu a idéia de fazer no C.E., que apertou o “prazo”, fazendo-me dormir, durante duas semanas, de meia noite para que sexta-feira o filme estivesse pronto. Se ela não tivesse feito isso, Bárbara não teria sido exibido na sexta. Então, acho que essa movimentação e agitação foi promovida pela propaganda de marketing que tivemos, que foi ‘séria’, quanto a cartazes e avisos nas salas, quanto ao famoso boca a boca e conversas nos corredores.

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