Txai Ferraz - Sobre ser filho legítimo, meio que a princípio tentamos renegar isso. Há de se convir que é muita bagagem ser filho do CAp, mas não somos filho único (não só em cinema), o que dá uma pluralidade muito saudável. Espero que o CAp continue como sempre foi em sua essência, um produtor cultural, mas isso não quer dizer necessariamente manter as formas de produção cultural que vem sendo feitas nos últimos anos. A gente vive numa época de muito atropelo temporal, tenho certeza que todo mundo sente um pouco disso comparando o Aplicação de hoje com a "época de ouro" que muitos mitificam. É claro que torço para que venham outros projetos cinematográficos, mas não acredito apenas na tradição como forma de expressão de identidade. Mais cinquenta anos de intensa produção cultural que valha a pena se produzir e que acrescente algo de novo, é isso que eu espero.
Vinicius Gouveia - Ser o primeiro é uma responsabilidade enorme. Se o que você fez ficou legal, as pessoas decidem fazer também. Mas, se ficou chata/feia/vulgar, desestimula. Pra mim, ser pioneiro foi uma preocupação menor do que produzir. Estava bem mais interessando em me divertir nas gravações, organizar as filmagens, editar e tantas outras coisas que esse pioneirismo não estava nas minhas principais preocupações e não dei muita importância.Penso que é bem mais importante continuar com essa prática, não porque EU acho legal, mas porque eu vejo que é de interesse comum entre vários alunos do CAp [independente da série]. Gosto de pensar que estou estimulando outras pessoas lá dentro a fazerem o que fiz e se sentirem tão bem e realizadas, quanto eu. Não me importo se sou o primeiro, mas ficaria extremamente preocupado se soubesse que eu fui o último.
Pergunta 8 - No trecho de ‘A sua vida em minhas mãos’, vocês abordam um fenômeno interessante da atualidade, a exposição pública de problemas privados. Que acham dessa estranha necessidade, retratada em BBB’s, e testes de fidelidade da vida?
Vinicius Gouveia - Essa cena foi, inicialmente, escrita por Txai. Então, registro que minha opinião é enquanto ator/produtor, a dele será como escritor e mentor da seqüência. Coincidentemente, Humberto e Alane interpretavam algo parecido para a gente, nas horas vagas. Então, não tivemos muito a fazer, se não junta-los. Não sei ao certo qual foi a inspiração de Txai para escrever a cena, mas eu a vejo, na história, apenas como mais uma piada. O filme é para as piadas e não as piadas são para o filme. O programa é, apenas, mais uma das influências da televisão a que somos bombardeados. Acaba sendo uma crítica por estar sendo satirizado, mas eu não me preocupei em utilizar aquela cena como forma de crítica. Então, acho que há sim uma crítica a “exposição pública de problemas privados”, realities shows, etc., mas isso fica por conta do espectador. Não foi nada pensado.
Txai Ferraz - Essa curiosidade excessiva sobre a vida alheia que a mídia nos impõe como saudável se confunde com a necessidade de se sentir melhor por não ter os problemas expostos. É preciso admitir que até certo ponto é da natureza humana, mas vejo esses programas como um incentivo a qualidades que não podem acrescentar nada de bom.
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