03 outubro 2008

Braços erguidos sob a chuva de confetes

Pernambuco. 13 horas. Em Paulista, estudantes do Educandário Municipal Cônego Costa Carvalho preparam-se para o início das aulas. Aos poucos entrando nas salas, acomodam-se nas carteiras sem que tostão tenham no bolso. No pulso, freqüências normais. Nas portas, batidas banais. No teto, tons naturais.

Entre o pulso, as portas e o teto, jovens sintonizam-se em torno da novidade que surge. Urge a notícia em forma de sons (não tão distantes) que se fazem ouvir. Broncas, brigas, balas. Isso já não seria nada. Desta vez estão eles, de fato, num foco fatal.

A lição do dia começou pontualmente e com transdisciplinaridade. Química, biologia, física. Geografia, história, matemática. E tudo mais que se deve ter num colégio. Com tiros na nuca, no queixo e na barriga pôde-se ver evaporar a vida no banheiro da escola. E aproveitaram com presteza a ocasião. Cerca de 220 alunos puderam calcular e discutir a velocidade do projétil, os efeitos da cápsula adentrando as vísceras. A localização do corpo, a história das armas de fogo, o número de tiros.

Foi concretizado um verdadeiro pulo na qualidade do ensino. Uma conquista imensa, que não poderia passar batido. Rapidamente providenciaram os quitutes. A festa seria intensa. O sol resolveu espiar e se esticou todo pela esquina do globo, olhando atentamente a fuzarca e conferindo um tom todo especial de beleza.

Os moradores da redondeza, faça-se justiça, também trataram de contribuir. Saltaram todos de suas jaulas com papéis cirurgicamente picados. Estava completo o cenário: braços triunfantemente erguidos protagonizando o espetáculo da chuva de confetes na retirada do corpo.


Foto: Maurício Ferry, Folha de Pernambuco

Segundo o projeto PEbodyCount, Oscalton Holanda, ex-presidiário e envolvido com drogas, foi a 3287ª vítima fatal da violência pernambucana em 2008.

Notícias a respeito do caso:

http://www.diariodepernambuco.com.br/2008/10/02/urbana4_0.asp
http://www.folhape.com.br/folhape/materia.asp?data_edicao=02/10/2008&mat=114534
http://www.pebodycount.com.br/post/comentarios.php?post=949#ancora

3 comentários:

Unknown disse...

É triste que nossa sociedade, há anos atrás, começou a ver casos de violência como atitudes banais, como se tudo o que tivéssemos de fazer fosse ameaçar e ferir uns aos outros para que as coisas ficassem bem.
É triste que isso tem acontecido entre pessoas, que na maioria das vezes deveriam se amar. E isso não é referente somente a famílias, mas também a vizinhos e amigos.
É triste que nosso país, ou pior, nosso estado anda assim. E alguns não percebem que não é só pessoas ruins que morrem quando um bandido é assassinado, mas também a nossa sensibilidade. Continuaremos assim e então, como crescerão as crianças? O que pra elas será normal?
Por isso gostei de "Braços erguidos sobre a chuva de confetes", escrito por Manoel Paulo, foi um texto bem elaborado, um sarcasmo em forma de crítica. Que me faz lembrar os escritores do passado que tentavam voltar nossas mentes a conciência do que é certo e que há muito temos esquecido. Acho que se o povo brasileiro, aliás, se ao menos os Recifenses deixassem de ser tão alheios a tudo, seríamos melhores na busca pela paz cotidiana.
Enfím, gostei e recomendo à leitura "Braços erguidos sob a chuva de confetes" porque quem escreve assim tem a magia (que é influência) de fazer com suas palavras, o despertar de um novo tempo. Um novo tempo para nossas vidas, o começo de uma nova luta, a luta pela paz esquecida!

Bruna monteiro disse...

cuméquié rapaz? isso foi verdade?O.O
que confetaria foi aquela? =o

Anônimo disse...

é um artigo que merece ser revisitado
mto bom!
temos aí um jornalista com diferencial...