04 outubro 2008

Três mil duzentos e oitenta e sete

A faca cuja força fere é fato
Mas três são só sinais que não trituram
O sol, o sonho e o sal não poupam ato
Tilintam bocas, peles e dedos (sem tato)

O sol que assombra a fala mete medo
O medo que escalda, cala e mede ordem
A ordem em toda ode me odeia
Odeia cada dado que remordem

O sonho em todo som se acentua
Até na tinta que temos no sangue
Até na sina que sonhamos cena
Até na vida que tornamos drama

O sal que achamos rolando na face
Que aprendamos a fazê-lo tempero
E possamos usá-lo bem a gosto
No rumo que içamos as velas

Três mil duzentos e oitenta e sete
Três mil duzentos e oitenta e sete
Este corpo foi levado em festa
Mas festas não lavam o mundo

À vítima fatal 3287 da violência pernambucana em 2008.

3 comentários:

Unknown disse...

Quando eu crescer, quero escrever que nem esse cara.

Jão disse...

Pois é, um dos motivos pelos quais não me atrevi a escrever poesias (ainda) é o fato de nunca achar que o que produzo é bom o suficiente (coisa de doido). Mas,como já tinha comentado, nem dá pra disfarçar a influência Simbolista, né? =]
Muito bom, Manoel, muito bom!

"O sonho em todo som se acentua
Até na tinta que temos no sangue
Até na sina que sonhamos cena
Até na vida que tornamos drama"

Parece um pouco com o que aconteceu dia 30/12, né?
Ou será que aconteceu o ano todo e nós que não percebíamos?

Seu inconsciente coletivo trabalhou bem!

Felipe Resk disse...

Quando eu crescer, quero escrever que nem esse cara, também.