14 março 2009

Considerações sobre uma aula

Na mais recente aula de português 3, quinta-feira, falávamos sobre retórica quando o assunto descambou num debate interessante. Com a mediação do professor Xavier, levantou-se a idéia de dominação cultural, tirania de um povo sobre o outro e coisas do tipo.

Tomou-se como exemplo desta tese a proliferação de alguns elementos da sociedade norte-americana pelo mundo: o imperialismo opressor da coca-cola e da calça jeans num país tropical ou a disseminação do cinema hollywoodiano pelo mundo.

O argumento dizia ainda que a incorporação destes costumes na rotina de povos outros, como o brasileiro, era sinal do sufocamento cultural, uma espécie de ameaça à nossa brasilidade. Também falou-se da nossa ignorância sobre países sem tanta penetração na mídia, como Cabo Verde. Em resumo: todo aquele discurso vermelho que há um tempo atrás fechava com ‘Abaixo a Alca e ao FMI’. Um discurso anacrônico.

Uma boa intervenção mudou um pouco o tom da conversa: a colega Flávia Braga lembrou-nos da idéia de antropofagia cultural, do bom intercâmbio entre os povos. Ou seja, que devemos defender o aproveitamento do que é positivo e ignorar o que não tem valor. Eu sigo por essa linha e vou um pouco mais a fundo.

Todo o mundo come pizza e isso não é sinal de imperialismo italiano. Há restaurantes chineses nos quatro cantos do ocidente e não há imperialismo chinês. Americanos usam havaianas e escutam bossa nova: não, o Brasil não está dominando o mundo.

Esses fenômenos nada mais são que um processo natural intrínseco à globalização. São resultado de questões econômicas. O que faz mais sentido, pensar que os donos da Mc Donalds, em associação com a indústria farmacêutica, pensavam em dominar os hábitos alimentares mundiais com uma dieta nada saudável ou que eles simplesmente queriam ganhar dinheiro e ampliaram seus empreendimentos para outros mercados?

Creio que a resposta é inequívoca. Daí, pra inferir o motivo da supremacia americana é fácil. Qual o maior centro econômico? Onde há mais capacidade de grandes investimentos? Qual a economia com maior penetração na maioria dos outros países?

Com todo respeito, Cabo Verde é que não é.

No lugar de caçar inimigos imaginários, acho mais produtivo desenvolver o Brasil – mas é sempre mais confortável culpar os outros de nossas desgraças.

2 comentários:

Anônimo disse...

Naturalmente, ele rejeitaria um cargo de jornalista-correspondente em Nova York, só para se livrar dos valores americanos: coca-cola, calsa jeans e salário em dólar.

Mariana Gominho disse...

Desenvolver com responsabilidade, o que urge surgir nesse país...